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Foto do escritorCasa da Cultura de Paraty Câmara Torres

FARINHA DA TERRA

Atualizado: 29 de out. de 2020


Raspar, sevar, prensar, peneirar e fornear. Ainda hoje, esse ritual rudimentar, que teve origem com povos indígenas, é repetido nas casas de farinha de Paraty. A mandioca, tubérculo da família das Euphorbiaceaes, recebeu esse nome a partir da união dos vocábulos mãdi (o nome da criança) e og ou oka (casa do índio), também sendo conhecida como aipim ou macaxeira.

Motivo de lendas, a planta era considerada uma dádiva, tamanha sua importância, e durante muito tempo foi chamada de “pão da terra” por indígenas e caboclos. Amplamente consumida no território nacional, desde muito antes da chegada dos colonizadores, a farinha ainda é feita de acordo com a tradição milenar e o modo de fazer dos indígenas brasileiros. Depois de ralada, a mandioca é espremida no tipiti, cesto cilíndrico feito de taquaraçu, para extração de seu suco. Então, é peneirada e seca ao forno.

Na famosa carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei de Portugal, Manuel I, tida como o primeiro documento histórico do Brasil, o navegador deu seu testemunho sobre a planta, base da alimentação indígena. Estupefato, descreveu a energia que o tal “inhame” oferecia aos nativos.

Em Paraty, documentos relatam a exportação de sacas de farinha e derivados, polvilho e beijus, através do porto que aqui fervilhava, em meados do século XVIII. Essas mercadorias viajavam junto à banana e à aguardente em lanchas e canoas para o Rio de Janeiro, São Sebastião, Santos, Angra dos Reis, e outros destinos.

No decorrer da História, o costume da feitura da farinha se manteve e as casas de farinha paratienses são a reminiscência desse legado. Diz-se que esses locais eram encontrados de ponta à ponta da cidade. Em comunidades rurais e costeiras, a “meia” era a forma de repartir o trabalho e seus frutos. Eu, com minha roça, e você, com sua casa de farinha: ambos compartilhando os benefícios do que se produz nesses espaços, de caráter comunitário intrínseco, que fortalecem elos através do fazer e do saber e resistem à gerações, através da oralidade. Atualmente temos casas de farinha familiares, para consumo comunitário, e comerciais, para venda na região.

Por aqui, a farinha ganhou o sufixo “da terra”, do qual não se pode abrir mão quando o assunto é farinha de boa qualidade. No prato do caiçara, a mandioca está servida na sopa d’água, no pirão e na tríplice aliança - o peixe, a banana e a farinha. A farinha também é coisa nossa: parte fundamental da gastronomia e dos saberes da nossa gente.



 

Coordenação: Andréa Maseda, Raphael Moreira, Paula Fabricante

Curadoria: Fernando Fernandes, Patrícia Gibrail

Produção: Emanuel Gama

Pesquisa e Texto: Marcos Maffei, Tayná Pádua

Design: Leonardo Assis

Ilustrações: Elison Fernandes, Patrícia Gibrail

Assistentes de Produção: Juliana Dourado, Mary Ellen, Pamela Albretch

Pintura: Francisco Gama

Iluminação: Sibel Barros

Comunicação: Leonardo Assis, Tayná Pádua


Paraty Espera por você

Design: Marcus Prado

Ilustrações: Laiz Elesbão


Apoio Institucional: Prefeitura de Paraty

 

Sala Dona Geralda


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