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CRÔNICAS DE PARATY: Iluminação púbica – Acendedor de Lampiões

#10 CRÔNICAS DE PARATY: Iluminação púbica – Acendedor de Lampiões

Por Zezito Freire

A energia elétrica e, consequentemente, a iluminação elétrica, chegou em Paraty em julho de 1922, quando entrou em funcionamento a usina do Bananal, montada pelo alemão Henrique Eresmann, aproveitando parte das instalações da antiga fábrica de tecidos, gerando energia pelo sistema de roda d’água.

Rua do Comércio, por volta de 1930
Foto: Acervo João Miranda

Imaginemos a transformação de passar da iluminação de lampiões e lamparinas a querosene ou óleo de mamona para a iluminação elétrica, e poderemos visualizar o assombro naquela noite de sua inauguração. Diziam os que tiveram a oportunidade de presenciar o grande evento que, quando o Dr. Samuel Costa, Presidente da Câmara Municipal, no meio do discurso de entrega da melhoria ao povo, usando de uma chave especialmente colocada ao seu alcance na Mesa Presidencial, fez a ligação que iluminou o ambiente e toda a cidade, houve gente que, de espanto, rolou escada abaixo! Não era para menos!

Com seus postes de ferro fincados no centro das ruas, de maneira a que nenhum cruzamento ficasse sem a sua preciosa luminária, a energia elétrica clareava a cidade durante toda a noite, acabando com o escuro que ensejava o aparecimento de fantasmas, assombrações de encomenda – geralmente para ocultar algum ato menos digno.

Não foi feliz o alemão, que logo veio a falir. O acervo da empresa foi arrematado pelos irmãos Alberto e Alfredo Coutinho que, com um financiamento obtido da Santa Casa, mudaram o sistema de geração de força, instalando uma turbina com capacidade para 50KVA, o que salvou o empreendimento.

Mas, até então, como era?

Nas casas, a iluminação era feita a lampiões, que iluminavam tanto mais quantas fossem as posses do cidadão, podendo adquirir os famosos lampiões belgas, de mesa ou de pendurar, alguns mais sofisticados, com suas bacias refletoras que distribuíam a luz por todo o ambiente. Outras casas, muitas casas, se contentavam com a lamparina a querosene, a chamada “periquito”, e as antigas candeias a óleo de peixe ou mamona, de fabricação caseira.

Foto: Acervo João Miranda

E as ruas? Como eram iluminadas? Se o eram, claro!

Segundas as histórias ouvidas dos mais velhos, na tradição oral, a primeira iluminação pública, ainda nos tempos da cidade que nascia e prosperava, foi feita a candeias – ou candeeiros -, sendo o combustível usado o óleo de mamona vegetal, de fácil vicejação nesta região. As candeias eram acesas ao anoitecer e forneciam luz bruxuleante até que o óleo acabasse, o que ocorria sempre antes da meia-noite, pois sua quantidade era devidamente dosada quando colocada.

Tempos depois, houve algum progresso: foi adotada a iluminação a carbureto. Essa, porém, era considerada de certo risco e, apesar de dar uma luz mais eficiente pelos seus bicos de gás mal cheiroso, foi substituída pela iluminação a querosene, que perdurou até o advento da luz elétrica.

Os lampiões de querosene, de feitio melhor elaborado, apresentando bom gosto artístico, eram pendurados em cada esquina, em suportes fixados nos pilares dos edifícios.


Antiga Prefeitura, entre 1920 e 1930
Foto: Acervo João Miranda

O acendedor de lampiões, funcionário da Câmara Municipal, não poderia ser um indivíduo pouco afeito a responsabilidades, tal a importância que se dava ao seu ofício.

O último acendedor de lampiões, aquele que perdeu o seu emprego em função do melhoramento que a cidade ganhou, viveu o bastante para ser contemporâneo de muitos ainda vivos, que podem lembrar da figura do Manequinho Santo Antônio (Manoel Rodrigues de Carvalho, seu nome de Batismo).

Com sua cara bexigosa, prova de que tinha conseguido superar algum surto de varíola, era ele pau para toda obra. Se alguém estava com algum doente em casa, em fase terminal, era ele o chamado para ser o enfermeiro da noite, como também era o preferido para cuidar de preparar os defuntos para um sepultamento condigno.


 postada por Petalas de Pano
Foto: Grupo Fotos e Causos de Paraty no Facebook

Por fim o Manequinho foi funcionário da Santa Casa, onde durante largo tempo ocupou as funções de servente, encarregado da limpeza, e do atendimento noturno dos hospitalizados.


Na Santa Casa ele terminou seus dias, desaparecendo com ele o último remanescente da era dos acendedores de lampiões em Paraty.

(28 de fevereiro de 1992)

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