O poeta e escritor Flávio de Araújo é natural de Paraty, nascido em uma família de pescadores da Praia do Sono, comunidade de difícil acesso, reduto caiçara por excelência.
”Filho de Euzébio, neto de Ambrósio Quirino, dois bravos do mar”, Flávio por certo herdou a oralidade na vida e na escrita dessa sua matriz caiçara. Matriz essa que é o cerne /raiz de sua poesia, vivência e saberes de onde tira inspiração e lhe dá base para ir além , de ter uma fala poética permeada de riqueza local, mas com traços marcantes de modernidade e mundo urbano também.
A natureza sempre presente, o trabalho, os costumes, as brincadeiras de criança, o ritmo de vida, , a comida, a religiosidade, toda a cultura caiçara, são panos de fundo de sua poesia.Através de sua leitura é possível entrar em contato com esse modo de viver e estar no mundo, perceber o quanto esse universo faz parte da rica diversidade da cultura brasileira. Com ela fazemos também uma viagem pelo vocabulário típico caiçara, permitindo um prazeroso encontro com a nossa própria língua, um encontro com o homem caiçara não como elemento do passado, mas como parceiro do nosso presente, inserido com suas tradições e sonhos no nosso futuro.
Falando de seu mundo, da vida caiçara, Flávio se torna universal, a identidade que aflora em seu trabalho é percebida, reconhecida e transmitida poeticamente aos leitores.
Flávio colaborava com o Jornal de Paraty desde 1999, mas foi em função da FLIP, Festa Literária Internacional de Paraty, que decidiu torna-se escritor, ter seus poemas editados em livro.Como Flávio mesmo conta, era motoboy, fazia suas entregas de modo a passar perto da grande tenda onde alguns dos seus autores preferidos falavam para o público.
Certa feita, atropelou nada mais nada menos que o escritor e poeta britânico Benjamin Zephaniah. “Fiquei transtornado, o maior evento literário da América Latina acontecendo no quintal da minha casa e eu sem participar como devia“. Percebeu que não dava mais para adiar. Foi então que conheceu e mostrou seus poemas a Ovídio Poli Junior , criador do Selo Off Flip. Desde esse encontro em 2006, muita coisa mudou para ambos. Após lançar seu primeiro livro de poesias, Zangareio (2008), o primeiro da editora Off Flip, Flávio teve a oportunidade de participar de diversos eventos literários em outros estados e em outros países ,como Cuba e México.Tem sido autor homenageado de inúmeros projetos pedagógicos nas escolas da região além de ser curador do programa Off Flip das Letras.
Sentimos em sua poesia a presença do homem simples, e o quanto da sua força está presente nos brasileiros que buscam vencer as adversidades, na luta para a preservação de suas tradições, contra a especulação imobiliária , o turismo predatório. “Estamos em uma cidade turística, influenciada por vários movimentos, e o turismo deixa um legado às vezes bom, às vezes ruim. A cidade estava perdendo a sua oralidade e eu acho que contribuí de alguma forma para preservar, reforçar essas raízes”, é o que nos conta esse nosso poeta “prata da casa” de Paraty.
Texto: Flora Salles
Abertura: 6 de julho de 2018
Encerramento: 9 de setembro de 2018
Sala Natalino Silva
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