"Exposição na Casa da Cultura traz 20 aquarelas de paisagens do norte de Portugal"
Foram 254 quilômetros, 11 dias de caminhada e uma série ilimitada de aquarelas. Depois de percorrer o trecho português do famoso Caminho de Santiago de Compostela, Ricardo Inke voltou inspirado pelas novas paisagens. O mais recente trabalho do artista, conhecido por suas poéticas aquarelas de Paraty, traduz em pintura as paisagens do norte de Portugal, a partir de desenhos e fotografias feitas ao longo da jornada. Durante a Idade Média, havia muitos caminhos que cruzavam esse território, em direção à Espanha. Uma dessas rotas de peregrinação é o Caminho Português, que começa na cidade do Porto, passando aldeias e cidades como Ponte de Lima, Barcelos, Valença, até chegar a Santiago de Compostela, na Espanha –o ponto final dos peregrinos, há mais de 2 mil anos.
Vinhedos, vilarejos medievais, densas florestas e pontes romanas compõem o cenário percorrido pelo artista em, maio de 2016. Um ano depois, a Associação Paraty Cultural apresenta, de 12 de maio a 12 de junho, na Casa da Cultura, a exposição “Um caminho português”, com 20 aquarelas do artista. Ele conta que voltou da viagem com o forte desejo de compartilhar a experiência e a existência desse caminho, menos conhecido do que o lado francês da rota. “Como minha linguagem é desenhar e pintar, fui produzindo as aquarelas, algumas reais, outras imaginárias, partindo das cenas que vi durante a viagem”, diz Inke. Em 2013, ele já havia trilhado o caminho que vai da França a Espanha (800 km), durante 33 dias. “São paisagens parecidas, mas o trecho português, além de mais curto, tem menos gente”, diz.
Aquarelista autodidata, há 20 anos, o carioca Ricardo Inke é engenheiro de formação. Pintou a primeira aquarela em 1997, investigando um livro sobre o tema. Nunca mais parou de reunir referências, treinar técnicas e compartilhar descobertas, como fez ao organizar o Encontro Internacional de Aquarelistas de Paraty (do qual fez parte até 2016) ou administrando desde 2013 do grupo Urban Sketchers, que, domingo sim, domingo não, se reúne para desenhar e trocar experiências em algum ponto da cidade histórica. Suas aquarelas, hoje, integram coleções no Brasil e em países como França, Noruega, Alemanha, Estados Unidos e Japão.
O artista escolheu Paraty para viver desde 2004, quando leu em uma reportagem que ali era possível viver de arte.”Aquilo me pegou na veia”, diz. Ao lado da mulher, Marília Inke, artista-plástica, ele mantém seu ateliê no Centro Histórico –cenário inesgotável de inspiração. “Paraty pede para ser pintada. Posso passar pela mesma esquina dez vezes, tem sempre uma luz diferente, uma senhorinha passando, um gato na janela…”, diz. A arte da aquarela também surpreende a cada pincelada. “É uma técnica fascinante, porque não permite muita correção e ao mesmo tempo é cheia de surpresas. A partir de certo ponto, a aquarela se pinta sozinha, produzindo efeitos imprevisíveis”, ele vai divagando.
Peregrinar pelo Caminho Português, aos olhos do aquarelista, também significa trilhar um caminho de transformação interior, viajando ao sabor de outros séculos, ao lado de desconhecidos que se tornam amigos. “No caminho, não interessa se você é executivo, garçom, artista. Todos estão na mesma busca”, diz ele. Ao fim da jornada, dormindo em albergues, aprendendo a carregar apenas o mínimo, em uma mochila, a chegada é celebrada com uma grande missa na Catedral de Santiago de Compostela. É o momento de perceber que a graça do caminho não está exatamente em dar o último passo. “A beleza do caminho está no próprio caminho”, diz o artista, despertando em quem vê as aquarelas de “Um Caminho Português”, o desejo de se tornar o próximo peregrino.
A abertura da exposição “Um Caminho Português”, de Ricardo Inke, será no dia 12 de maio, a partir das 20h, na Sala Dona Geralda, na Casa da Cultura.
Produção Emanuel Gama
Curadoria: Fernando Fernandes
Texto: Rosane Queiroz
Sinalização: Leonardo Assis
Fotos: Davi Paiva
Abertura: 12 de maio de 2017
Encerramento: 12 de junho de 2017
Sala Samuel Costa
Comments