Pescador, artesão, artista plástico, escritor, poeta e líder comunitário, Almir dos Remédios, conhecido como Almir Tã, é símbolo de resistência da cultura caiçara. Descendente dos índios Guayanã, nasceu e cresceu na Ilha do Araújo, a segunda maior ilha da baía de Paraty. O contato cotidiano com a natureza trouxe o conhecimento que nenhuma universidade é capaz de ensinar.
Em quase quatro décadas de contribuição pela manutenção da cultura e preservação dos mares e florestas da região, Almir produziu centenas de obras, militou em muitas causas sociais relacionadas às populações caiçaras do município, registrou em livro conhecimentos tradicionais e até construiu uma biblioteca comunitária, hoje transformada em Ponto de Cultura. Reconhecido por seu notório saber, o artista dissemina conhecimentos por onde passa. Aos 60 anos de idade continua sua saga em defesa da cultura tradicional.
O despertar para a arte e o interesse pela preservação dos costumes caiçaras surgiram ainda na década de 1970. Ao perceber a dificuldade dos mais velhos na luta pelo território e na transmissão dos saberes, Almir decidiu acompanhar de perto o trabalho dos mestres canoeiros e das antigas lideranças da época. Naquele tempo, assim como ainda hoje, a especulação imobiliária ameaçava as comunidades caiçaras. “Foi preciso muita união dos moradores da Ilha e de outras comunidades para impedir que os grileiros daquele tempo acabassem com nosso território”, relembra.
A primeira pintura foi com tinta óleo em um pedaço de madeira compensada. A obra pode ser vista até hoje na parede de sua casa. Ele conta que a vontade de se expressar pela arte surgiu após a morte de seu pai. “Quando percebi que os mais velhos estavam partindo e a cultura estava se perdendo, resolvi mergulhar também nessa luta”, revela. No inicio, Almir produzia quadros para um amigo em troca de tintas e telas importadas. Foi na casa de Benedito Martins, renomado pintor de Paraty, que aprofundou suas técnicas. Observando o artista, o pescador evoluiu conhecimentos e desenvolveu seu próprio estilo. Depois da pintura, dedicou-se também ao artesanato, na construção de peças de decoração. “A natureza fornece a inspiração e os materiais necessários para criar”, conta. Peixes, remos e canoas são os temas preferidos do artista.
Ao longo da carreira acumula reconhecimentos importantes a nível municipal, estadual e federal. Em 2008 recebeu o diploma de Mestre em Saberes e Fazeres da Secretaria de Cultura do Estado do Rio de Janeiro. Já o MINC – Ministério da Cultura o homenageou em 2014 por seu notório saber em cultura caiçara. No mesmo ano, a Marinha do Brasil o condecorou com a medalha ‘Amigo da Marinha’, honraria recebida por personalidades civis, que se destacaram no trabalho de divulgação da mentalidade marítima e da importância do mar para o país. Por quatro vezes também recebeu o título municipal de cidadão de qualidade de Paraty.
A exposição ‘Vivência Caiçara’ acontece na Casa da Cultura de 26 de maio a 16 de julho. A mostra exibirá parte do acervo desse importante representante da cultura da cidade, como quadros em acrílico, peças decorativas e artesanatos que retratam a espontaneidade do artista, além do livro ‘Cultura Caiçara’, lançado em 2012, na Festa Literária Internacional de Paraty. Empenhado na construção de uma mentalidade mais consciente por parte das comunidades caiçaras de Paraty, principalmente com relação a perda da identidade e a importância da manutenção dos saberes tradicionais, Almir deseja realizar também durante o período da exposição debates e rodas de conversas. “A ideia dessa exposição é apresentar um pouco do meu trabalho nesses quase quarenta anos de dedicação à cultura e, se possível, trocar experiências com quem se interessa pela simplicidade e sabedoria da vida caiçara”, conclui.
Produção: Emanuel Gama
Texto: Davi Paiva
Foto Exposição: Leonardo Assis
Abertura: 26 de maio de 2017
Encerramento: 16 de julho de 2017
Salão Nobre
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