Ao longo de seus 95 anos, José Carlos de Oliveira Freire deu vida a homens e mulheres, habitantes do campo e da cidade, personagens do período colonial da mais charmosa cidade histórica do país. Autor de centenas de crônicas, 14 livros publicados e dezenas de histórias ainda não conhecidas pelo público, seu ‘Zezito’, é considerado o primeiro contador do município. Habilidoso com as contas decidiu ir além dos números, passou então a encantar com palavras e imortalizar histórias.
Nascido em Paraty, em 27 de agosto de 1922, o escritor começou bem cedo a trabalhar. Aos 12 anos deixou as brincadeiras de criança para ajudar uma tia a cuidar da doceria em Cunha, interior de São Paulo. Ainda menino iniciou o trabalho como auxiliar de farmácia em Paraty, numa época em que só existiam remédios manipulados. Com essa experiência e mais tarde, com a formação em técnico de contabilidade, atuou na Santa Casa entre 1937 e 1966, como prático de farmácia, enfermeiro, técnico de laboratório, operador de raio x, escrivão, tesoureiro, conselheiro e provedor.
Exímio conhecedor da história de Paraty e dono de uma memória invejável, Zezito Freire viu e viveu as transformações da cidade. Da Santa Casa passou a contabilista, assessor administrativo da prefeitura e vereador. Em seguida fundou seu escritório de contabilidade. Memória viva de Paraty, o autor também foi músico de grande relevância para acultura paratiense. De 1938 a 1947, tocou trompa e clarineta na banda local Lira da Juventude e foi co-fundador da atual Sociedade Musical Santa Cecília.
Pode-se dizer que o escritor Zezito Freire, nasceu tardiamente. Foi em 1991, aos 69 anos, quando o Jornal de Paraty publica suas crônicas sobre a história do município.“Quando parei de trabalhar no escritório de contabilidade, fiquei meio perdido e o dono do jornal me pediu para escrever sobre coisas que haviam acontecido na cidade do meio do século para trás”, lembra.A partir daí foram 152 textos resgatando o passado da cidade com histórias sobre a vida caiçara, o trabalho no campo, festas e tradições, entre outros temas que nos levam ao passado colonial do município. Em seguida vieram os contos e romances. “Vou escrever até quando Deus permitir”, ressalta.
Ambientados em Paraty, os livros descrevem cenários, personagens e realidades de outros tempos. São tramas, romances e histórias quase reais dentro da ficção. Personagens como coronéis que ditam leis, comunidades caiçaras violentadas por empreendimentos, paixões proibidas, entre outros acontecimentos que se passam em fazendas, florestas, cachoeiras e praias paradisíacas da região.
A exposição “Contador de Histórias” nasce em homenagem a esse grande ícone da história de Paraty. A estreia acontece no próximo dia 22 de julho, às 20h, na Casa da Cultura. Na Sala Natalino Silva será possível mergulhar nos acervos do autor em um ambiente cheio de elementos visuais que farão os visitantes voltarem no tempo. Serão expostas fotografias, livros editados, livros que ainda não foram editados, a antiga máquina de escrever que tanto produziu, além de poemas e vídeos.
Produção Emanuel Gama
Curadoria: Patrícia Gibrail
Texto: Davi Paiva
Sinalização: Leonardo Assis
Fotos: Leonardo Assis
Abertura: 22 de julho de 2017
Encerramento: 13 de setembro de 2017
Sala Natalino Silva
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